Por Márcio Jerry
A democracia brasileira enfrenta mais um capítulo da trama golpista que se desenrola desde a derrota de Jair Bolsonaro nas urnas, em 2022. O episódio mais recente foi protagonizado pela oposição bolsonarista no Congresso Nacional, com um gesto de violência política inaceitável: a ocupação das mesas da Câmara e do Senado, impedindo o funcionamento das Casas da democracia. Mais um capítulo dessa grotesca e vergonhosa novela golpista.
Na terça-feira (6), quando o Congresso retomava sua agenda de trabalho após o breve recesso parlamentar, esses setores interromperam os trabalhos da Câmara e do Senado com a ocupação deliberada das mesas diretoras. Foi uma tentativa explícita de chantagem contra os presidentes das duas Casas, exigindo a pauta de uma proposta absurda e ilegal: a anistia aos responsáveis pelos ataques de 8 de janeiro.
Mas não é de hoje. O primeiro capítulo dessa escalada de violência veio ainda durante a diplomação do presidente Lula, quando bolsonaristas ameaçaram invadir a sede da Polícia Federal e incendiaram ônibus e carros em Brasília. Depois, em pleno Natal, tentaram explodir um caminhão de combustível próximo ao aeroporto da capital. Por fim, no 8 de janeiro, invadiram, depredaram e vandalizaram os prédios do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto.
E vejam — para nunca esquecermos: no planejamento do 8 de janeiro, surgiu o famigerado “Punhal Verde-Amarelo”, uma trama terrorista que previa o assassinato do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes. Planejaram um triplo assassinato. Eis o nível da ameaça que enfrentamos.
De lá para cá, a ofensiva golpista não cessou. Eduardo Bolsonaro viajou aos Estados Unidos para conspirar contra o próprio país, pedindo sanções contra instituições legítimas da República — entre elas o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, do qual ele próprio faz parte. Um gesto vergonhoso e inaceitável de traição à Pátria.
Já Jair Bolsonaro, mesmo sob investigação e com medidas cautelares impostas pela Justiça, seguiu desafiando frontalmente a legalidade. Descumpriu decisões, mobilizou aliados para sustentar sua versão distorcida dos fatos e tentou se vitimizar diante da responsabilização pelos crimes que cometeu. Como avaliaram ministros do STF e integrantes da Polícia Federal, Bolsonaro “cavou a própria prisão” em busca de uma narrativa política. Ele não é perseguido — é réu. E o Brasil é uma democracia, não uma república de blindagens.
Sua prisão domiciliar, decretada em 4 de agosto pelo ministro Alexandre de Moraes, é resultado direto desse comportamento reiterado de afronta à Justiça. Trata-se de uma resposta necessária de um Estado que não se curvará à intimidação nem à chantagem. O ministro Moraes atua com base na Constituição. Não há excessos. Há responsabilidade. E há coragem diante de um projeto autoritário que tenta se reciclar a cada novo fracasso.
O bolsonarismo, hoje, é muito mais do que um movimento político radical. É uma engrenagem de ataque permanente às estruturas democráticas. Uma rede organizada de desinformação, sabotagem à Constituição e estímulo ao desrespeito às leis. Consolidou-se como uma corrente violenta, sectária, antidemocrática, antipatriótica — e viciada em cometer crimes. Sua atuação é incompatível com os valores republicanos. Seu método é o tumulto. Sua doutrina é a mentira. Sua prática é a afronta.
O que a oposição bolsonarista está fazendo hoje no Congresso é parte dessa mesma engrenagem: querem usar o Parlamento para confrontar a Constituição, desacatar decisões judiciais e, no limite, tentar paralisar o funcionamento da ordem democrática. Agem não como representantes de um projeto político, mas como operadores de uma sabotagem programada contra a democracia brasileira. Assim como a ditadura militar fechou o Congresso em 1964 pela força, hoje os bolsonaristas tentam fazê-lo pelo tumulto, pelo grito, pela desinformação.
A democracia venceu em 2022. Venceu em 8 de janeiro. E seguirá vencendo. A maioria do povo brasileiro quer paz, justiça, respeito às leis e um país que avance. O Brasil já fez sua escolha: a democracia é o nosso único caminho — e vai prevalecer.
Márcio Jerry é deputado federal (PCdoB-MA) e vice-líder do Governo Lula na Câmara dos Deputados.